Por ANTONIO MASCARENHAS
O campeonato brasileiro de futebol, Série A, é,
insofismavelmente, uma das maiores competições esportivas do planeta, levando consideráveis
públicos aos estádios dos principais
centros do desporto nacional. Uma
competição que poderia, muito bem, ser coroada com emoções positivas não fosse
o incidente ocorrido quando da realização da partida realizada na Arena Joinvile, em S.Catarina, envolvendo Atlético (PR) 4 X 1 Vasco da Gama em que
três torcedores, após violentos espancamentos, foram enviados ao Hospital em
gravíssimo estado. Uma lamentável situação que desencadeou manchetes nos
principais meios de comunicações do mundo, realçando a atual situação reinante
nas praças esportivas do país.
Em que pese a questão de insegurança reinante, o certame que foi encerrado nesse domingo, 08,
com a realização dos últimos jogos do campeonato, a grande expectativa
girava, não em torno da decisão do título entre as equipes participantes, já que
o Cruzeiro já havia levantado a taça há algumas rodadas de antecedência, mas, na definição dos nomes que restavam descambar para a Série B (Vasco e
Fluminense), na disputa direta com Criciúma e Coritiba, salvos pelo “gongo”.
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Como se pode observar, o sistema de pontos corridos tem se
mostrado sonolento durante o transcorrer do campeonato na medida em que, em
determinado momento, já seja possível
prognosticar o nome do campeão com algumas rodadas de antecedência. A “briga”
fica fadada, apenas, na luta pelos que anseiam ingressar no G4 e na das equipes
que digladiam para não caírem para a
Série B.
Antigamente, com o campeonato disputado em chaves distintas
em que os melhores classificados partiriam para as disputas "mata-mata" em octogonais, quartas-de-final ,semifinais e final, reservava mais emoções às equipes e, por extensão, a grande
massa de torcedores.
Há, evidentemente, defensores dos dois sistemas: pontos
corridos e por chaves. Compete aos organizadores efetuarem uma pesquisa de âmbito
nacional para colher opiniões a respeito
dessas duas vertentes de disputa.Imagens ilustrativas, divulgação.
Veja matéria pertinente,discorrendo a respeito desse sistema de disputa em outros países, publicada por Márcio Ordacgi,
clicando em LEIA MAIS
ABAIXO OS PONTOS CORRIDOS
Por Márcio Ordacgi – Blog Tédio Profundo, em 10.11.13
Já disse antes que esse campeonato brasileiro está muito chato. Não é
pelo fato do Vasco estar mal das pernas e não sair de um estranho 17° lugar,
mas sim pelo sistema de disputa. O campeonato por pontos corridos não atrai
público. No início do campeonato (que tem 46 rodadas!), ninguém vai porque
"os jogos ainda não valem nada". No meio do campeonato (a época com
melhores públicos), só vão para o estádio as torcidas daqueles 7 ou 8 times que
ainda têm chance real de disputar o título. No final, como podemos presenciar
atualmente, só mesmo a torcida dos 2 times que ainda disputam efetivamente a
alcunha de campeão. Nem mesmo a fuga do rebaixamento atrai muita gente, pois
ninguém gosta de assistir o seu time indo pro buraco.
Aí vem aquela manjada alegação: "Mas tem a disputa pela vaga da
Libertadores!" Balela. Nenhum torcedor dos grandes times do Brasil entra
num campeonato torcendo para o seu time chegar em 5° e ir para a Libertadores.
A cultura futebolísica em nosso país valoriza apenas uma coisa - e com razão -
o título. Assim, como apenas Cruzeiro e Santos podem vencer, só essas torcidas
comparecem aos estádios e ligam em massa suas TVs para assistir aos jogos. E
tem mais. Já viu coisa mais chata que é o campeonato acabar com 2, 3 ou 4
rodadas de antecedência? Semana que vem, se o Cruzeiro ganhar e o Santos
perder, o time de Minas é campeão com 3 rodadas de antecipação. E as outras?
Ninguém vai assistir. E mesmo a torcida do Cruzeiro, imaginem que divertido: O
Santos perde para o Fluminense na Vila Belmiro e o Cruzeiro ganha no Pinheirão
do Paraná. É campeão. E a torcida? Ah, tá lá em Minas... E o estádio? Vazio, pq
o Paraná não tá disputando mais nada... Que emoção...
Surge aquela outra frase pronta: "Mas na Europa é assim há anos e sempre
funcionou." Claro, o futebol lá é totalmente diferente do daqui. Os
campeonatos têm pouquíssimos clubes campeões, são sempre os mesmos. Há
praticamente um monopólio, no máximo um oligopólio de clubes que vencem
campeonatos. Aqui no Brasil, só para se ter uma idéia, desde que começou o
Campeonato Brasileiro (1971), tivemos 32 campeonatos e 16 campeões. Na Europa é
totalmente o oposto. Vejamos:
Desde 70-71 (mesmo tempo do campeonato brasileiro), 9 times ganharam o
campeonato italiano:
Internazionale (3), Juventus (14), Lazio (2), Torino (1), Milan (7), Roma (2),
Verona (1), Napoli (2) e Sampdoria (1). De 33 Campeonatos, Juventus e Milan
ganharam 21.
Em Portugal, nem se fale...
Só Porto (14), Benfica (13) e Sporting (5) ganharam mais de 1 vez na história.
O Boavista venceu apenas 1 vez, em 2000/2001. O Belenenses, o outro time que já
venceu o campeonato de lá, só o fez em 1945/46! 3 Times para 32 campeonatos...
Na Inglaterra, os campeões desde 70/71 tb são 9:
Arsenal (5), Derby County (2), Liverpool (11), Leeds (2), Nottingham Forest
(1), Aston Villa (1), Everton (2), Manchester (8) e Blackburn (1). Arsenal,
Liverpool e Manchester ganharam 24 dos 33 títulos.
Na Espanha, foram campeãs 7 equipes:
Valência (2), Real Madrid (15), Atletico Madrid (3), Barcelona (8), Real
Sociedad (2), Athletic Bilbao (2) e Deportivo La Coruña (1). Real Madri e Braça
dominam, com 23 títulos em 33 possíveis.
Na França, a situação é a seguinte:
Olympique Marseille (7), Nantes (6), Saint-Etienne (4), Monaco (5), Strasbourg
(1), Bordeaux (4), Paris S.G. (2), Auxerre (1), Lens (1) e Lyon (2) são os 10
vencedores dos 33 campeonatos. Certamente o campeonato mais "bem
disputado" dentre os principais na Europa, já que cinco equipes ganharam 4
ou mais títulos, ou seja, 26 do total. Mesmo assim, a paridade nem se compara
com a brasileira.
Ainda, na Alemanha os resultados são estes:
Borussia Mönchengladbach (4), Bayern de Munique (16), Köln (1), Hamburgo (3),
Stuttgart (2), Werder Bremen (2), Kaiserslautern (2) e Borussia Dortmund (3)
são os 8 campeões. Aqui o "monopólio" de títulos é patente. Quase
metade dos 33 campeonatos foram vencidos pelo Bayern de Munique.
Somente para dar mais um exemplo claro do que falo, vamos falar do futebol
holandês:
Feijenoord (5), Ajax (14), P.S.V. (13) e A.Z. '67 (1) são os únicos campeões
desde 70/71, sendo que o Feijenoord só ganha esporadicamente e o A.Z. '67 (que
eu nem sabia que existia) somente se sagrou campeão em 80/81.
Esses dados deixam mais do que explícito uma coisa. Se vc vive na Europa e
torce para um dos "grandes", vc vai torcer para que seu time seja
campeão todos os anos (como aqui) e como normalmente esses times ganham mesmo,
os estádios ficam cheios do início ao fim da temporada (com o óbvio auxílio das
vendas antecipadas, que seriam difíceis de ser implantadas aqui, justamente por
causa do que será comentado no parágrafo abaixo). Se vc torce para um time
mediano, vc sabe que seu time não vai ser campeão de jeito nenhum. Portanto, o
melhor que vc pode conseguir é torcer pra ele chegar em 6° e garantir a Copa da
UEFA, ou algo semelhante. E eles estão acostumados a torcer assim. Um time
meia-boca vencer uma partida que seja do Real Madri, por exemplo, já é motivo
pra festa, é como se fosse um título. Assim, os estádios tb ficam cheios.
No Brasil, como a maioria dos times grandes já foi campeão (só faltava o
Cruzeiro, problema que será resolvido esse ano), todo mundo entra torcendo pelo
título, não importa o quão ruim é o plantel da equipe. Quando o torcedor
percebe que não vai ser campeão, perde o interesse e os estádios esvaziam.
Exatamente por isso, o sistema de playoffs com os 8 melhores colocados da 1ª
fase pode não ser o mais justo, mas é o mais interessante (além disso, desde
quando futebol é justo?). Quero dizer, se o sistema fosse de classificar os 8
primeiros, a torcida do Flamengo (para dar um exemplo), que hoje está em 10°,
lotaria sempre o estádio torcendo por uma classificação em 8°, já que aí o time
teria chances de ser campeão, e não por causa de vaga na Libertadores ou Copa
Sulamericana. Com o sistema atual, nem a urubuzada tem saco de ir ao estádio.
Taí o porquê de não funcionar venda antecipada aqui. Sabe-se lá se o time vai
estar bem? E vc acha que eu vou gastar meu dinheiro pra comprar todos os
ingressos pra ver meu time chegar em 17°????
Abaixo os Pontos Corridos! (Daniel Marques) - coluna publicada no
site Flamengo-RJ (14/12/2003)
Como o título da coluna sugere, eu estou entre a minoria que é contra o
Campeonato Brasileiro em turno e returno por pontos corridos. Para mim a
fórmula ideal seria com o mesmo número de 24 clubes atual, jogando em turno
único classificando os oito melhores para uma segunda fase de mata-mata com
jogos de ida-e-volta, sendo assim também nas semi-finais e na final, sendo os
quatro últimos rebaixados e os quatro primeiros da Segundona subindo no ano
seguinte.
Os motivos para essa minha posição são simples, o campeonato atual é
excessivamente longo e restritivo, são longas e intermináveis 46 rodadas (que
mesmo com 20 times e 38 rodadas em 2006 ainda será longo demais), com no máximo
4 ou 5 times ao final do turno e 2 ou 3 times nas últimas rodadas brigando pelo
título e no máximo uns 6 ou 7 brigando contra o rebaixamento, deixando pelo
menos 10 times sem disputar nada de importante. E não me venham dizer que
brigar por vaga em Libertadores ou Sul-Americana motiva o torcedor, a
diminuição da média de público desse Brasileiro em relação aos anteriores
mostra o contrário.
Um campeonato com seis meses de disputa, oito se classificando e quatro
caindo é muito mais dinâmico, abrangente e emocionante, pois volta a colocar de
12 a 15 times na disputa pela classificação e conseqüentemente pelo título, e 8
ou 9 na briga contra o rebaixamento, deixando praticamente todos os times
brigando por algo realmente importante no campeonato. E o fato de haverem
finais ainda é melhor financeiramente, a TV paga mais pelos direitos de
transmissão, afinal as finais sempre dão uma grande audiência, mobilizam o país
inteiro em torno desses jogos decisivos.
E o principal motivo para a volta do mata-mata no Brasileirão ser
necessária para nós rubro-negros é o fato de o Flamengo não ter costume de
ficar em primeiro lugar numa fase de pontos corridos do Brasileiro, o clube
sempre cresceu mesmo nas decisões. Em 1987 e 1992, por exemplo, os melhores
times na fase de pontos corridos foram Atlético-MG e Vasco respectivamente, e o
Flamengo atropelou os dois na segunda fase dos campeonatos e foi campeão
depois. Se o Brasileiro já fosse apenas em pontos corridos desde 1971 o
Flamengo dificilmente seria pentacampeão.
Quero o Mata-Mata! (Willian Ceolin) - carta publicada na
revista Placar 1275 (outubro/2004)
Ouvi dirigentes da CBF falarem do sucesso do campeonato nacional
disputado por pontos corridos. Está certo que o filtebol está se organizando e
o campeonato está indo bem. Não há os problemas que havia em outros anos, mas
daí falar que os pontos corridos estão sendo sucesso no Brasil é brincadeira,
né? Os estádios nunca estiveram tão vazios, os clubes estão começando a se
contentar com o vigésimo lugar. Será que para clubes como Botafogo, Flamengo,
Grêmio e outros isso deveria ser comemorado? O torcedor está perdendo a vontade
de ir assistir seu time jogar. Que graça tem assistir a um jogo que não valerá
nada no futuro? Ou o torcedor também vai começar a se contentar com posições
intermediárias e passar a ir em jogos de Botafogo, Flamengo, Grêmio, Paraná, Guarani,
etc. para comemorar colocações sem valor? Não dá para jogar um ano inteiro
apenas por posições insignificantes em um campeonato desse tipo. Afinal, para o
torcedor brasileiro, classificação para competições sul-americanas não basta. O
torcedor quer títulos e um futebol disputado. Queremos a volta do mata-mata, e
já!
Campeonato Brasileiro por Pontos Corridos (Jean Flávio) -
publicado no fórum AOL Esporte (10/05/04)
Idéia de jerico. Interessante que a fórmula da série B premia não só a
regularidade, mas também a capacidade do clube em jogos decisivos. E isto sem o
tudo ou nada do mata-mata. Basta lembrar que o campeão e o vice da série B do
ano passado só foram conhecidos na penúltima rodada, com cada técnico de olho
na calculadora e no rádio de pilha.
Que motivação pode ter uma equipe do pelotão intermediário? um
campeonato dessa natureza é igual cruzamento de égua com touro: nem dá leite
nem dá carreto. Ou seja, é tedioso, chato, desmotivante, tal como a cabeça de
quem idealizou.
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